A televisão na ditadura militar
Já foi discutido no outro texto que os militares controlavam a mídia para acompanhar toda a informação que chegava até a população. Caso não lembre, clique aqui. Desde que assumiram o poder os militares invadiram e prenderam donos de jornais que eram tradicionalmente de esquerda ou que reclamaram do golpe. Com a publicação do AI-5, em dezembro de 1968, a censura dos meios de comunicação tornou-se implacável até o início do governo Geisel, em 1975. Onde a censura tornou-se gradativamente mais leve, até o restabelecimento do regime democrático. Mesmo assim, é preciso analisar quão grandiosa foi a televisão na ditadura militar para manter o regime funcionando.
A censura da televisão na ditadura militar
O Decreto-Lei nº 1.077, janeiro de 1970 instituiu a censura prévia, exercida de dois modos: ou uma equipe de censores instalava-se permanentemente na redação dos jornais e das revistas, para decidir o que poderia ou não ser publicado, ou os veículos eram obrigados a enviar antecipadamente o que pretendiam publicar para a Divisão de Censura do Departamento de Polícia Federal, em Brasília. Em meio a todo esse cerco à comunicação, os militares tinham liberdade de fazer o que quisessem, pois tinham a segurança de saber que a população jamais seria informada de seus erros e de quaisquer outras falhas ou falcatruas desenvolvidas durante esse período. Mas como a televisão mantinha a população iludida?
É nesse momento que o Brasil viveu o “Milagre Econômico”. Um período entre os anos de 1968 a 1973 de crescimento econômico. Esse período foi caracterizado pela aceleração do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), industrialização e inflação baixa. Contudo, por trás da prosperidade, houve o aumento da concentração de renda, corrupção e exploração da mão de obra. O tal milagre econômico só foi possível baixando o preço dos salários e através de muito empréstimo no exterior.
Durante esse período o PIB subiu 11% ao ano. Foi criado o banco central, a hidroelétrica de Itaipu, ponte Rio-Niterói, Infraero e diversas outras obras públicas e estatais com esse dinheiro. No início o dinheiro provinha principalmente dos depósitos do FGTS mas o governo continuava a construir e criar empresas, a demanda só aumentava. Esse é o momento em que diversos empréstimos no exterior foram feitos para sustentar o desenvolvimento. Fica fácil fazer obras públicas assim, né? Mas o problema de todo empréstimo é que uma hora você vai ter que pagar.
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Só notícia boa!
Então, vivendo num governo violento, que você não pode se expressar publicamente sob pena de ser preso e torturado, somente notícias boas apareciam na televisão na ditadura militar. Essas notícias não eram somente das obras públicas, mas também da copa do mundo. No governo Médici, os generais aproveitaram até o hype da copa do mundo para fazer isso virar propaganda da ditadura. Eu mesmo cresci gritando “PRA FRENTE BRASIL!” durante as copas do mundo. Porém não sabia que o jingle da copa, o “pra frente Brasil”, junto com “Ninguém segura este país” e “Brasil; ame-o ou deixe-o”, eram formas do governo fazer propagandas de exaltação nacional. Propagandas ufanistas. É claro que o cidadão comum não tem noção de onde vem o dinheiro das obras públicas, nem da excitação pela copa do mundo. E no meio desse turbilhão, obviamente o brasileiro médio vai achar que está vivendo uma utopia.
Esse tipo de pensamento não ocorreu somente aqui, mas também em regimes ditatoriais como União Soviética, Portugal ou Chile. Por esse motivo as pessoas mais velhas têm uma visão feliz e errada da ditadura militar. Lembram dela como uma época feliz onde todos tinham emprego.
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Na década anterior ao fim da ditadura a tortura e repressão aos meios de comunicação continuavam a existir, porém em escala menor pois a população não via mais sentido em tamanha truculência por parte dos militares. A desarticulação do movimento de luta armada contribuiu muito para isso. Com isso, o então presidente Gen. Ernesto Geisel foi o encarregado de fazer uma transição segura e gradual de volta à democracia. Essa transição foi lenta, com os militares sempre reagindo e tentando atrasá-la.
Esse foi o momento onde a televisão começou a publicar matérias e reportagens mostrando os “pequenos excessos” da ditadura. A censura não estava mais tão presente. Por exemplo, a televisão noticiou o fim do AI-5 em 1979. Na época os militares estavam bancando atentados a bomba para manter a população com medo dos tais terroristas, que eram o pessoal da luta armada. O mais famoso desses atentados a bomba ficou conhecido como “o atentado do Riocentro”. Na ocasião, dois militares detonaram acidentalmente dentro do carro uma bomba que seria implantada em um espetáculo em comemoração ao dia do trabalhador. Foi tão feio isso que esse evento desmoralizou os militares da “linha dura” levando ao fim do AI-5 em 1979. Era o fim da censura nos meios de comunicação. Daqui pra frente, era só ladeira abaixo.