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Revoltas república velha

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O fim da monarquia, não representou grandes transformações sociais para a população brasileira que permaneceu estagnada vendo os cafeicultores agroexportadores enriquecendo com o uso da máquina do governo. Os problemas sociais cresciam à medida que o governo não tinha interesse em resolvê-los. Nas cidades, ex-escravos libertos não receberam nenhum projeto que proporcionasse inclusão social, nos campos e nas cidades imigrantes eram trazidos aos montes pois eram mão de obra melhor qualificada e o “melhor de tudo”: eram brancos. Não era de se estranhar que estourassem revoltas na república velha.

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Revoltas messiânicas

A primeira, chamada de Guerra de Canudos ocorre bem na época entre a queda da monarquia e início da república. O fundador desse levante é conhecido como Antônio Conselheiro. Conselheiro trabalho como jurista, e com o tempo abandonou sua esposa para peregrinar o sertão construindo igrejas e pregando um cristianismo primitivo onde ele acaba atraindo pessoas que se identificavam com suas mensagens de fé, justiça e contra as opressões sociais. Antônio foi visto pelas autoridades eclesiásticas (da igreja) e pela elite local como uma ameaça à ordem estabelecida chegando a prendê-lo alegando que ele tinha cometido assassinato de sua esposa e mãe.

Após ser solto, conselheiro segue do Ceará para a Bahia com seu contingente de seguidores onde ele cria em 1893 uma comunidade chamada de Belo Monte. O nome Canudos foi dado pelos opositores que iam desde os integrantes da Igreja alegando que Antônio pregava heresias e os senhores de terra que eram donos dos meios de comunicação que ele era um monarquista que almejava derrubar o governo republicano. Com tamanha pressão, o exército foi utilizado contra com metralhadoras, canhões e massacrando centenas de mulheres, idosos e crianças.

O segundo evento chamado de Guerra do Contestado (1912 a 1916), foi duramente reprimido pois ocorreu em uma região onde tinha uma floresta rica, plantações de erva-mate e o projeto de construção de uma estrada de ferro que ligaria os Estados do Rio Grande do Sul e São Paulo. A Brazil Raylway Company além de comprar as terras onde ela construiu a estrada de ferro, comprou mais terras onde ela iria extrair madeira, o que ocasionou em uma enorme massa de desempregados entre os pequenos agricultores que moravam na região. Assim surgem líderes religiosos que pregam ideais de justiça, igualdade e comunhão sendo o primeiro desses líderes o beato José Maria.

Os donos de terra lá presentes fizeram muita pressão ao governo federal para que resolvesse a invasão. Temos assim o uso do exército contra os posseiros que invadiam as terras com uma severidade cruel. Chegando a usar aviões e artilharia pesada contra a população.

Cangaço

Já mais para o interior, o acontecia o verdadeiro banditismo social. A opressão dos coronéis levava a movimentos de grupos armados que não reconheciam nenhuma autoridade, como o do Cangaço no sertão nordestino. O nome cagaço deriva de canga, aquele objeto de madeira sobre a cabeça dos bois para guiar na roça prendendo no arreio.

A região perdeu importância desde o tempo do império quando a capital mudou de lugar. Em uma terra esquecida, os grandes proprietários ficavam com as melhores terras, relegando a população a virarem empregados ou obrigando-as a cultivar nas piores terras. O principal cangaceiro conhecido na história foi Lampião, mas a tradição do cangaço é muito mais antiga, nascendo com José Gomes, o Cabeleira no século XVIII e ganhando um grupo reconhecido com Jesuíno Alves Calado, o Jesuíno Brilhante.

Os cangaceiros se dividiam entre os milicianos que trabalhavam para os latifundiários e os “bandidos” que trabalhavam para políticos fazendo ameaças no estilo voto a cabresto para garantir votos.  Já Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, fundou um grupo de foras da lei que viviam à própria sorte, carregando somente pertences pessoais, tornando-se inimigos da polícia e dos cangaceiros “protegidos pela lei”.  O cangaço durou até a década de 1930 após uma campanha ampla de Getúlio Vargas onde eles passaram a ser perseguidos como inimigos públicos.

Chibata e Vacina

Enquanto isso, nos centros urbanos, o problema da exclusão era visivelmente fomentado por um governo ainda preso às tradições autoritárias e o perfil conservador dos grandes proprietários que não querem negociar com o povo. Surgem assim as primeiras greves, pelo descaso com a classe operária e a Revolta da Vacina (1904), provocada pelas péssimas condições de vida do povo nos morros e pela atuação grosseira do governo em o que poderia ter sido uma boa ação sanitarista.

Preocupado em acabar com a proliferação de cortiços e disseminação de doenças. O governo começa uma campanha de vacinação forçada, sem fazer nenhum trabalho de conscientização da população. As pessoas são presas contra a vontade pela polícia para receber vacinas e cortiços são derrubados expulsando as famílias que existiam dentro das casas. Isso gerou uma revolta gerada pelos boatos que as vacinas estariam sendo usadas para exterminar a população aliados à severidade das ações policiais e pronto, temos uma revolta popular.

Paralelamente, os postos mais baixos da marinha também mobilizaram sua classe em torno de manifestações contrárias à falta de trato de seus superiores que aplicavam chibatadas como punição para desobediências. A primeira manifestação aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, onde marinheiros tomaram conta de embarcações oficiais, protestando contra os baixos salários, melhores condições de alimentações e os castigos físicos combatidos na chamada Revolta da Chibata (1910). O líder do movimento João Cândido pediu anistia para todos os envolvidos no evento. O presidente Marechal Hermes da Fonseca prometeu acatar a decisão mas depois de todos entregarem as armas acabaram sendo presos onde na cadeia os marujos se amotinaram novamente.

A prisão foi bombardeada pela marinha para sufocar a revolta. Dentre os poucos sobreviventes estava João Cândido que  acabou sendo expulso da marinha após o evento. Ao todo morreram mais de 200 marujos e mais de 2000 foram expulsos da corporação. Cândido foi inocentado mas internado em um hospício acusado de ser desequilibrado. Como tanto João quanto a maioria esmagadora dos marujos eram negros, ele foi conhecido como o Almirante negro. A história só ganhou importância nacional em 1959 quando lançaram o livro “A Revolta da Chibata” e marinha somente perdoou os revoltosos em 2008, ano em que o governo brasileiro considerou as reivindicações legítimas concedendo anistia aos envolvidos. O almirante negro morreu sem glória ou reconhecimento, pobre, como pescador.

Todas essas rebeliões davam sinais claros de uma mudança no interior da nação. O Brasil não tinha mais seu campo político restrito ao meio rural e as constantes crises da economia não mais suportavam um país essencialmente ligado à agroexportação. Paralelamente, a partir de 1914, o crescimento urbano e industrial inseriu novos grupos sociais dotados de interesses e demandas políticas próprias. A partir disso que compreendemos as diferentes revoltas que marcaram essa época. Nas próximas aulas nós veremos mais sobre esses movimentos sociais que embora não tenham derrubado o governo, abalaram a estrutura social do período.

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