Professor Fernando

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Política do café com leite

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Na aula anterior vimos sobre a Proclamação da República e o governo dos presidentes militares. Esse período foi chamado de república da espada. Em 1891, o Brasil adotou a primeira constituição da república, cheia de restrições e limitações para a democracia, mas que representava os interesses das elites agrárias do país. Iniciou assim os mandatos dos presidentes civis. Nesse período podemos observar a alternância no poder entre grupos das elites agrárias brasileiras, especialmente entre os políticos de São Paulo, principal produtor de café e Minas Gerais, criação de gado. Uma série de esquemas políticos mantiveram esses partidos no poder. Por esse motivo chamamos esse período de política do café com leite.

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Durante os anos de 1894 até 1930, ao contrário de hoje, não existiam partidos nacionais e sim estaduais. Mesmo assim, vamos ter dois partidos dominando a política brasileira. Esses dois partidos representavam o setor agrário, principalmente os fazendeiros de café do oeste paulista. Não é à toa que teve um revezamento no poder através entre o Partido Republicano Paulista (PRP) e do Partido Republicano Mineiro (PRM).

 Dois partidos controlavam as eleições, mantendo-se no poder de maneira alternada, sendo o PRP o mais forte. Nessa época a máquina administrativa do Brasil era usada para resolver os problemas dos produtores de café, gastando enormes somas de dinheiro público para manter o preço do café alto, ou criar uma estrutura que facilitasse a exportação de café. Novamente, não é coincidência que a primeira ferrovia do Brasil foi feita para escoar a produção de café. Era tanto poder nas mãos dos cafeicultores ao ponto que os historiadores apelidaram esse período de “República do café”.

Mas tirando o fato de que todos os políticos eram em sua maioria cafeicultores ou eram ligados aos cafeicultores, de que forma essas elites permaneciam no poder?

Os cidadãos da política do café com leite

Conforme dito antes, a constituição de 1891 determinava que somente poderiam votar os maiores de 21 anos, excluindo militares de baixa patente e analfabetos. Isso significava que o perfil do eleitor brasileiro era homem, branco e com dinheiro. Sim, a maioria da população branca por si só já era analfabeta. Então a população negra em raríssimas exceções seria alfabetizada. Lembrem-se que recém tinha acabado a escravidão. Fazia pouco tempo que a população negra estava tentando “arrumar seu lugar ao sol”.

Pronto. Agora que excluíram quase toda a população brasileira das eleições era hora de fazer a “campanha” política em cima desse pequeno grupo de eleitores. Entende como era mais fácil para o político armar esquemas para se manter no poder? Não precisa manipular toda a população brasileira, só alguns. Antes de finalizar, notou o detalhe? Note que em nenhum momento falei de mulheres. Pois bem, a mulher não era impedida pela lei de votar, mas nem ela, nem os homens pensavam na possibilidade de uma mulher na política. As mulheres foram totalmente esquecidas.

O coronelismo

Charge humorística
Charge mostrando o coronel (representado por um fazendeiro) trazendo o eleitor como um cavalo até a urna para votar no candidato dele. Charge típica na política do café cm leite.

A figura do “coronel” era muito comum durante os anos finais da República do Café com Leite, principalmente nas regiões do interior do Brasil. Com certeza você já viu o “Auto da Compadecida” ou filmes assim e que o coronel era um grande fazendeiro. Poderoso e que usava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Como escolhiam os eleitores, já vimos antes. Agora resta saber como controlar o eleitor.

A piada da época era que o eleitor era um cavalo guiado pelo coronel. Ele levava o eleitor até a urna e escolhia em quem o eleitor votava, como se “trouxesse o eleitor no cabresto”. Assim nasceu o chamado “voto de cabresto”, onde o coronel (fazendeiro) comprava o voto do eleitor. Ou até mesmo usava de violência (ameaças) para que os eleitores de seu “curral eleitoral” votassem nos candidatos apoiados por ele.

Tudo isso só era possível porque o voto era aberto (diferente do secreto). Os eleitores eram pressionados e fiscalizados por capangas do coronel (jagunço) para que votasse nos candidatos indicados. Se nada disso desse certo o coronel alcançar seus objetivos políticos ele apelava para o voto fantasma (voto falso), troca de favores e qualquer outra forma de fraudes eleitorais.

Troca de favores políticos

Durantes seu mandato, o presidente paulista Campos Salles iniciou um acordo entre as pessoas mais influentes nos estados e os candidatos a presidente. Esse acordo funcionava na base da troca de favores. O “futuro governador” apoiava o “futuro presidente” ganhando votos para ele no seu estado. Quem apoiasse o presidente a vencer, ganhava verbas públicas, leis que protegessem seus interesses e coisas assim. Em resumo, era uma troca de favores políticos assegurava que as elites locais se mantivessem no poder. Consegue perceber que o poder nunca vai trocar de mão? Dificilmente um grupo que está no poder perdia sua posição pois ele nunca deixava de ter a política resolvendo a sua vida. Em outras palavras, ele nunca ficava sem dinheiro.

O convênio de Taubaté é um excelente exemplo para você entender como funcionava um “favor político”.  Essa lei beneficiava totalmente os cafeicultores em momentos de crise. Quando o preço do café no mercado estrangeiro estava muito baixo, o governo federal comprava a produção de café por um preço mais alto. Depois de comprar ele esperava alta do preço do café subir e vendia os estoques. Em alguns momentos o governo vendia “seu café” para o mercado interno. Esta política mantinha o preço do café sempre em alta. Desta forma os fazendeiros nunca tinham prejuízo pois quem pagava era o governo brasileiro.

Política do Café-com-Leite, ou: O momento que Minas gerais entra na parada.

Charge sobre a eleição de 1910. Dois cavalos de São Paulo e Minas Gerais com as caudas amarradas, correndo em direções opostas e dividindo a opinião pública.

Os dois primeiros itens acima mostram como as oligarquias controlavam a “democracia” na República Velha. O Convênio de Taubaté protegia o bolso dos cafeicultores e… Era a vez de defender os interesses mineiros pois a maioria dos presidentes desta época além de são Paulo, eram políticos de Minas Gerais. Estes dois estados eram os mais ricos da nação e, por isso, dominavam o cenário político da República. Assim, os presidentes acabavam favorecendo sempre o setor agrícola, principalmente do café (paulista) e do leite (mineiro).

A política do café-com-leite sofreu duras críticas de empresários ligados à indústria, que estava em expansão neste período e das oligarquias que não estavam representadas nesse período. De um lado a política do café-com-leite privilegiou e favoreceu o crescimento da agricultura e da pecuária na região Sudeste, por outro, acabou provocando um abandono das outras regiões do país. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste ganharam pouca atenção destes políticos e tiveram seus problemas sociais agravados.

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