A vinda da família real ao Brasil
Em 1808 a família real chega ao Brasil escoltada pelas tropas inglesas. Essa transferência foi o resultado de um briga que não tinha nada a ver com eles, mas respingou nos portugueses. E nosso país, que também não tinha nada a ver com isso, muda completamente depois da vinda da família real ao Brasil. O evento mudou a forma como nossa economia funcionava, tanto quanto nos relacionamos com outras nações ou nossa identidade como país.
O bloqueio continental
No início do séc. XIX Napoleão Bonaparte expandia seu império francês para outros países da Europa. Essa expansão os colocou em conflito com os ingleses, nação dona de uma poderosa frota naval que Napoleão não conseguia vencer. Por isso em 21 de novembro de 1806, o Imperador francês Napoleão Bonaparte decreta um bloqueio comercial com a Inglaterra. Todo país do continente (Europa) que comercializasse com a ilha da Grã-Bretanha seria invadido por terra pelos franceses. Portugal não aderiu ao bloqueio devido aos acordos comerciais que tinham com os ingleses e foi invadida por Napoleão. A saída para evitar o conflito foi fugir para o Brasil com toda a corte.
O filme Carlota Joaquina retrata esse evento como um “deus nos acuda”. No filme, o na época Príncipe Regente, Dom João, é um gordo escroto e covarde que passa o filme comendo asas de frango. Ao contrário do que o cineasta pensa e retrata, a vinda da corte ao Brasil não foi uma fuga desesperada de Portugal. Todo o processo foi negociado com a Inglaterra que muito lucraria com o processo. Tanto que um dos acordos feitos foi que continuassem a comercializar com o país a partir da colônia e ela escoltou os navios ao Brasil durante todo o percurso.
Junto com a transferência da corte veio uma quantidade enorme de funcionários, parentes e amigos que precisavam ser encaixados em algum cargo público. Nessa época o Brasil não possuía nem iluminação pública e nem edificações adequadas para receber toda essa galera. Resultado? Algumas pessoas foram despejadas para receber o príncipe regente. A presença da corte no Brasil exige que o país se modernize (nem que seja o mínimo) para comportar tal empreendimento pois agora a cidade do Rio de Janeiro, era a capital de Portugal (sim, foi por um curto período). A principal mudança foi a abertura dos portos do Brasil a todas as nações amigas de Portugal, ou seja, qualquer país aliado agora poderia comercializar direto com os brasileiros dando aos brasileiros a oportunidade de negociar o preço de seus produtos de exportação, coisa que não acontece no sistema colonial. Onde o porto brasileiro é fechado e o Brasil vende para somente um comprador: Portugal, sua dona.
Olhando do ponto de vista econômico, a chegada da família real deu um rápido impulso às elites brasileiras que se viram livres de acordos antigos que funcionavam quando o Brasil era uma colônia portuguesa. Mas, observando como nação, o Brasil perdeu muito com as mudanças desempenhadas na economia. A ideia de abrir os portos era uma das cláusulas inglesas para a transferência da corte portuguesa. E junto disso vinha outra clausula que determinava a diminuição das taxas alfandegárias sobre os produtos ingleses e a abertura dos portos na colônia para todas as nações amigas. O que significa que isso significa pra nós? Significa que mais vale a pena comprar produtos industrializados ingleses do que Brasileiros. Como por exemplo os tecidos ingleses, por serem mais baratos.
A abertura dos portos e a permissão de montar indústrias permitiu à burguesia brasileira um espaço para crescer (isso tudo havia sido proibidas no passado pela mãe de D. João, a rainha Maria, a louca). Abriram–se assim algumas fábricas, tais como uma de ferro e outra de pólvora. Maior espaço de atuação das manufaturas, ainda que a manufatura de tecidos não tenha progredido por causa da concorrência dos tecidos ingleses. Mas no geral os resultados foram favoráveis para o desenvolvimento da elite local.
Claro que estando a família em solo da colônia, era preciso melhorar a colônia para melhor receber nossos governantes. Para isso foram criados novos impostos que custeariam as obras públicas e a resistência portuguesa contra a invasão francesa na metrópole. Assim ao mesmo tempo em que o país recebia a entrada de novos produtos estrangeiros (como o chá), ocorriam outras medidas que indiretamente estimularam as atividades econômicas do Brasil como construção de estradas, melhorias nos portos, etc.
No campo social, o Brasil sofria um reboliço cultural e educacional o que só fez facilitar o processo de independência do Brasil. Nessa época, foram criadas escolas como a Academia Real Militar, a Academia da Marinha, a Escola de Comércio, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a Academia de Belas-Artes e dois Colégios de Medicina e Cirurgia, um no Rio de Janeiro e outro em Salvador. Foram fundados o Museu Nacional, o Observatório Astronômico e a Biblioteca Real, cujo acervo era composto por muitos livros e documentos trazidos de Portugal. Também foi inaugurado o Real Teatro de São João e o Jardim Botânico. Uma atitude muito importante de dom João foi a criação da Imprensa Régia. Ela editou obras de vários escritores e traduções de obras científicas. Foi um período de grande progresso e desenvolvimento.
A volta da Família Real a Lisboa e o início do processo de independência do Brasil
Tanto movimento por aqui provocou a indignação do outro lado do Atlântico. Afinal, o Brasil deixara de ser uma simples colônia. Nosso país tinha sido elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Quer dizer, enquanto a família real esteve por aqui, a sede do reino foi o Rio de Janeiro, que recebeu muitas melhorias. Enquanto isso, em Portugal, o povo estava empobrecido com a guerra contra Napoleão e o comércio bastante prejudicado com a abertura dos portos brasileiros. Os portugueses estavam insatisfeitos e, em 1820, estourou a Revolução Liberal do Porto, cidade ao norte de Portugal. Os rebeldes exigiram a volta de dom João e o fim da junta de governo inglesa que governou na ausência do rei. Queriam também que o comércio do Brasil voltasse a ser feito exclusivamente pelos comerciantes portugueses. Cedendo às pressões de Portugal, dom João voltou em 26 de abril de 1821. Deixou, contudo, seu filho dom Pedro como regente do Brasil. Assim, agradava aos portugueses e aos brasileiros que tinham lucrado com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, especialmente com a abertura dos portos. Porém as elites brasileiras sentiram o gosto de serem livres e o caminho estava aberto para a independência brasileira.