A abolição da escravidão
Durante muitos anos aprendemos que a abolição da escravidão em solo brasileiro foi um ato de bondade da princesa Isabel, filha do imperador Pedro II. Porém isso é resultado de um processo bem mais complexo, que envolve desde uma enorme pressão estrangeira até muita briga por parte de abolicionistas, tanto dos ativistas brancos quanto dos negros.
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A pressão estrangeira na abolição da escravidão
O primeiro ponto que temos que observar é a pressão estrangeira. A abolição teve uma forcinha da Inglaterra que proibiu os países da América de sequestrar novos africanos para a américa na condição de escravo. “- Ah! Que legal então os ingleses eram bonzinhos?” Ahn… não! Devo lembrar-lhe que os ingleses também buscaram muitos africanos e venderam como escravos na América, em especial nos Estados Unidos. O que acontecia na real era que os ingleses precisavam que os produtos da sua revolução industrial chegassem a outros países. O capitalismo precisava do fim da escravidão para evoluir. De nada adianta ter uma enorme produção industrial e não conseguir vender seus cacarecos para todos. Aqui nós tínhamos uma enorme parte a população que não recebia salários para comprar suas mercadorias.
Só no Brasil, 15% da população eram escravos, o que dava em torno de 176.057 escravos, sendo que desses todos, 37.699 eram alforriados (libertos). E dentre esses libertos havia pessoas como José do Patrocínio que lutavam arduamente pelo fim da escravidão. José era negro e através de suas publicações em jornais e atos públicos chamava a atenção da população para a causa abolicionista. Seu maior ato foi entregar a alforria aos escravos no meio de uma peça de teatro, o que inevitavelmente chamou a atenção de todos, tanto os bons, quanto os maus.
O fato é que quem estava por trás da política no Brasil eram os plantadores de cana de açúcar e escravistas. Por isso a abolição demorou tanto para acontecer aqui mesmo com essa imensa pressão popular. Para se ter uma ideia, o Brasil foi o último país da américa a abolir a escravidão. Somente em 1888, um ano antes da queda do império foi promulgada a lei áurea, a lei que determinava o fim da escravidão.
As leis abolicionistas
O Brasil foi tão escroto para a abolição da escravidão que chegamos a criar leis que atrasaram o processo de abolição muito. Era o que chamamos de abolição em conta-gotas pois de pouquinho em pouquinho eles iam liberando seus escravos. O que torna isso mais ridículo (ainda) é que em todos os países na nossa volta, as leis abolicionistas foram direto para a libertação dos escravos quando chegou a pressão estrangeira e de abolicionistas. Nunca ninguém enrolou tanto quanto a gente.
Dentre essas leis temos pérolas como a Lei do Ventre Livre, de 1871, que proibia que filhos escravos nascidos depois daquela data fossem escravizados, mas exigia que eles trabalhassem até os 21 anos. Por quê até os 21 anos? Por que o coitado do escravista tinha prejuízo com essa criança escrava que ele cuidou e teve gastos durante a infância, né? Nada mais justo! Né? E note que estou sendo sarcástico. Quem não tiver percebido isso, por favor: vá estudar em outro site.
E em 1885, mais uma sacanagem: a Lei dos sexagenários. Essa determinava que todo escravo maior de 65 anos deveria ser liberto. E… pausa? Vamos ser sinceros: essa lei fazia um favor para o dono da fazenda, não uma bondade com o negro escravo. 65 anos nas costas! SE eu tivesse chego até lá, eu estaria todo quebrado, cheio de problemas de saúde. Fora que ao longo da vida eu não teria tido a oportunidade de acumular nada de valor ou de necessário para a minha sobrevivência… dessa forma, me restava ir pedir esmolas na cidade ou implorar pela bondade do escravista para eu me escravizar por um prato de comida.
O fato é que todas essas leis que foram promulgadas antes da Lei Áurea, de 1888, serviram para atrasar a saída do poder desses escravistas. A escravidão já tinha acabado em grande parte do mundo, mas aqui eram os escravistas que influenciavam na criação das leis. Por isso criaram essas leis menores que serviram para tentar dar tempo para a elite escravista não perder seu espaço na política.
Para completar a queda dos escravistas, temos o preço do açúcar que despencou depois de 1850 com a enorme concorrência. O Brasil por anos liderou na produção de açúcar e cobrou muito caro pelo produto, mas agora outro produto estava tomando a cena: o café. Assim o eixo da riqueza deixava cidades como Rio de Janeiro e passava para o interior de São Paulo. Uma nova elite surgiu no poder. Restava apenas derrubar a velha elite para que essa nova assumisse. E quem fez isso? O exército brasileiro.
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Em 1889 o exército assumiu prédios administrativos com tropas derrubando a monarquia brasileira. Com a elite tradicional enfraquecida pela queda no preço do açúcar e pelo fim da escravidão, restava ao exército, o único grupo forte naquele momento assumir e trocar o sistema de governo no Brasil. Mas isso é assunto para outro aula.